Intolerâncias e Autoridade

  • 13 de novembro de 2009
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Tenho me incomodado com as notícias de intolerância. Ainda me incomoda muito mais a perda do sentido da autoridade, da verdade, do bom e do justo.

No contexto corporativo sobram exemplos de gestores atordoados pelos jogos das pessoas e equipes e do que se espera por bom desempenho, sucesso e carreira.

São gestores que se vêem obrigados ao “ônus da prova” enquanto suas “vítimas” podem afirmar, confirmar e negar o que bem entenderem. Sem autoridade não há gestão e autoridade é exercício de delegação e confiança.

Líderes sem autoridade são improdutivos e presas fáceis dos enganadores, dos bajuladores e falsos contribuidores. As organizações sofrem porque o senso de justiça e equanimidade se esvai.

Na verdade, nas organizações assistimos ao que o macro-cosmo social enseja.

Jovens alunos e jovens executivos parecem ter perdido a capacidade de tolerar diferenças. Assim o confronto de idéias e argumentação concatenada e referenciada a valores e conceitos podem ser vistos como nefastos e um líder verdadeiro pode ser percebido como autoritário, um ser abominável na confusão caótica de papéis, responsabilidades e valores de conduta.

Aliás, no exemplo exaurido da minissaia usada por aluna da UNIBAN, não há discussão, não há idéias ou ideais, simples sentenciamento do grupo majoritário e o banimento sumário do que atormenta, confronta e assusta.

A academia não suporta mais a convivência da diversidade, não acolhe mais a discussão de valores éticos e de conduta, apenas condena e extirpa o dissonante sejam alunos ou qualquer outro membro da comunidade que ouse diferir ou discordar e se inconformar (sair da forma esperada).

Pelo ridículo que isto me parece, só posso entender que o fenômeno do “Bode Expiatório” de Kurt Lewin tomou conta do grupo em questão e a ex-aluna, vítima e depositária de “todos os males” de todas as áreas, facções e interesses, foi expulsa.

Outros ocuparão seu lugar…

Curioso é pensar que na mesma semana outro fato grotesco foi amplamente divulgado, porém com baixíssima repercussão. A mala branca. Refiro ao suposto pagamento feito por um time de futebol, o Cruzeiro, para que outro time, o Barueri, vencesse o Flamengo e assim levasse vantagem no campeonato por pontos.

A entrevista dada por um dos jogadores do Barueri é exemplar. Ele pôde falar de frente para as câmeras sem nenhum sinal de constrangimento porque ele não vê problema ou desvio ético no recebimento de dinheiro de outro time para vencer. Ele não reconhece qualquer deslealdade, perda de caráter ou do espírito esportivo. Ao contrário, ele vê no gesto da propina a normalidade de uma conduta considerada adequada.

Frente a estas manifestações brutas, como imputar culpa a alguém que ignora preceitos morais? Como responsabilizar alguém que desconhece contextos de respeito e responsabilidades compartilhadas? O que poderíamos esperar?

O Cruzeiro não se manifestou. Apostou com segurança no esquecimento.

Já os dirigentes do Barueri afastaram os jogadores que assumiram publicamente terem recebido dinheiro do Cruzeiro, alegaram a necessidade de preservar a imagem dos jogadores falastrões e do clube…

Nenhum pesar ético, apenas a “imagem” precisa ser preservada.

Há que se lamentar e refletir o que estamos comunicando e incentivando com estas imposturas porque é neste contexto conturbado e de imprecisões morais que e o exercício da liderança acontece e é exigido.

Como liderar? Como influenciar desempenhos superiores? Como elevar o padrão de conduta dos demais gestores?Como avaliar desempenhos se o acordo tácito é de concessão e baixa exigência para que não haja confrontos? Como ser verdadeiro e ético se a manifestação da desconformidade nos faz a “bola da vez”, o provável próximo “bode expiatório”?

É fácil entender porque tanta gente boa, séria e competente pode ser excluída do contexto empresarial. Parece que temos esquecido a máxima popular que diz que ”Quem poupa o Lobo, sacrifica a Ovelha”.

Sem diálogo e aprofundamento do significado das diferenças e seus impactos em nós, criamos um deserto de novas idéias e a capacidade de criação e inovação se perdem.

Empobrecemos porque a riqueza nasce da pluralidade e do respeito às individualidades, à autoridade e ao poder constituído.

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