Liderar é aprender a construir um relacionamento de prazer com as pessoas e, também, com equipes.
A Arte de liderar pressupõe estar tão próximo do outro que se é capaz de pressentir o momento em que o aprendiz, tendo amadurecido e crescido o suficiente para caminhar sozinho, se despedirá de seu mestre.
Na vida corporativa vemos uma série de equívocos sendo incentivados por “revistas especializadas” em gestão, como por exemplo, as pessoas trocarem de emprego frente à primeira frustração ou diante da primeira barreira que encontram. E o que temos então?
Bom, há sempre os que alçam vôos em asas alheias e podem até brilhar por certo tempo, e como brilham! Porém, como Ícaro, despencam na presença do Sol que verdadeiramente ofusca e faz por derreter o que é artificial e postiço.
O fato é que a construção de resultados sólidos de gestão passa por uma capacidade de lidar com as intermitências do prazer, com tudo aquilo que frustra, decepciona e desanima, mas não deveria ser motivo de abandono. Pelo contrário, tais vicissitudes deveriam instigar, provocar e desafiar àqueles que trazem em si a capacidade e a vontade de vencer e estão dispostos também a convencer.
Acontece que de acordo com a velocidade das transformações do mundo e também como decorrência de verdades instáveis, tendemos a valorizar resultados e competências efêmeras e deixamos de levar em conta competências duráveis, como: caráter, dignidade, verdade, compaixão, justiça, diálogo e algumas vezes, a ética no trabalho.
Com base nas competências duráveis podemos esculpir as competências efêmeras que serão depois valorizadas no mercado de trabalho e na vida como um todo. Para isso precisamos de pessoas com forte eixo central em torno do qual gravitem a busca de excelência, resultados e o brilho pessoal, não o inverso destas conquistas pessoais.
Ao longo do tempo, tenho observado que alguns dos nossos jovens, focados em fazer seu primeiro milhão até os 30 anos e encantados pela promessa da recompensa, acabam por perder empregos, vida pessoal e alguns, o próprio valor pessoal, que é dado pela dignidade.
Neste momento, algumas perguntas se tornam pertinentes. O que de fato se constrói quando poupamos nossas equipes e pessoas ao nosso redor das frustrações normais da vida no trabalho? Como poderemos ter comportamentos autônomos e responsáveis nas equipes, se as pessoas confundem individualidade (ser único e incompleto) com a mais absurda cegueira em relação à existência do “outro”?
Aliás, como na Arte de Saramago, a verdadeira pandemia anunciada na barbárie vista todo o dia em horário nobre, é a intolerância à frustração, é nossa cegueira frente ao que cada um é, deseja e pode vir a ser.
Nossa cegueira frente aos nossos limites e aos limites dados pelo outro. Não um mundo de algozes e vítimas, tampouco um mundo sem a obrigação por responder pelos atos e escolhas, no qual a barbárie impere.
Por outro lado, para que mais pessoas possam desfrutar de uma vida plena é preciso um grande esforço coletivo que reúnam pais, professores e lideranças em todas as áreas a fim de que possamos mostrar, educar e ensinar que o amanhã é conseqüência do hoje e que hoje o que é mais importante é se constituir como sujeito pleno, interdependente e responsável por si e pelo que provoca no outro.
Precisamos fortalecer nossas crianças e jovens, futuros líderes e formadores de opinião, para que amadurecidos possam compreender que há sempre escolhas e que em cada uma das escolhas que se faça haverá perdas precisas e ganhos incertos como conseqüência. Precisamos fortalecê-los para que possam adiar uma gratificação imediata em nome de uma gratificação futura sustentável. É como se precisássemos aprender e ensinar que quando poupamos dinheiro, adiamos consumo, por exemplo, em função de um futuro esperado.
É evidente que investir em capacitação é fundamental. Freqüentar boas escolas, falar vários idiomas e conhecer o mundo faz muita diferença na capacidade de gestão, mas nada disto é garantia de uma boa gestão se no centro de tudo não encontrarmos uma pessoa madura, sincera, capaz de tolerar as verdades sobre si mesmo e sobre o outro.
O que se espera de uma pessoa madura é que seja capaz de adiar gratificações fugazes em nome de uma carreira sólida e de resultados legítimos e que, assim, contribua para uma vida melhor para si e para os que estão ao seu redor.
Um líder precisa ser avaliado por seu legado, pelas perguntas que pode formular, pelas pessoas que pode desvelar, pelas pessoas fortes que pode tolerar e arrebanhar. Por outro lado, os gestores, as equipes e pessoas em geral precisam se dar conta de que a complacência com erros e atitudes inadequadas não vão ajudar a criar em cada um o sucessor ou o jovem e instantâneo milionário que se almeja ser.
Aliás, o Milhão, quando acontece, aparece como resultado e não propósito, além de vir costumeiramente acompanhado de muita competência, discernimento e renúncia.
O que buscamos no coaching é fortalecer a capacidade de escolha, melhorar a acuidade que permita separar melhor o que é de cada um, seus recursos, limites, valores e desejos. É importante definir quais são as metas estratégicas e quais metas de competências são necessárias para alcançar o objetivo maior. Por fim trabalhar, trabalhar muito para que o coachee (aquele que recebe o coaching) se aproprie de suas capacidades e realize seu potencial de forma consistente, perene e madura.